As lições que o Hamas tirou da guerra na Europa
Noticiado pelo Planeta ZAP O Hamas conseguiu apanhar Israel de surpresa graças ao uso de tecnologias de ponta e tirou várias lições do conflito na Ucrânia.
O cenário bélico internacional sofreu alterações significativas recentemente, influenciadas sobretudo pelo conflito em curso na Ucrânia — e o Hamas tirou várias lições na preparação para os seus recentes ataques contra Israel.
Quando a Rússia invadiu a Ucrânia em fevereiro de 2022, o desequilíbrio militar entre as duas nações parecia irreversível e até se acreditava que as tropas de Moscou conquistariam Kiev em poucos dias.
No entanto, a resistência ucraniana persiste até hoje quase dois anos. De acordo com o major-general Isidro de Morais Pereira, isto deve-se mais à “motivação” das forças ucranianas do que ao seu “poderio militar” e há vários outros exemplos no passado em que “o fraco acaba por vencer o forte”, como a guerra do Vietname.
O elemento transformador que mais se destaca no conflito na Ucrânia é o avanço tecnológico no campo de batalha. O uso de tecnologia de vigilância de última geração, incluindo satélites e drones, tem oferecido uma visão em tempo real e impede que tanto os russos como os ucranianos sejam apanhados de surpresa.
Esta ubiquidade tecnológica faz com que “o que é observável, passa a ser atacável”, afirma o major-general Agostinho Costa à CNN Portugal. As chamadas “munições inteligentes”, drones básicos e drones kamikaze têm desempenhado um papel crucial, nivelando em certa medida o campo de batalha entre forças desiguais.
Esta transformação também é evidente no conflito entre o Hamas e Israel. O grupo islâmico já começou a usar drones e outros avanços tecnológicos, enquanto Israel ainda não se adaptou completamente a esta nova realidade bélica.
Isto pode parecer surpreendente, dada a grande proximidade militar de Israel aos Estados Unidos e o seu historial de domínio militar no Médio Oriente, como a sua rápida vitória contra o Egipto, a Síria e a Jordânia na Guerra dos Seis Dias em 1967.
No entanto, há sinais de que aa Força Aérea israelita ainda está a solicitar drones de combate adicionais, como os Heron TP da Alemanha, para responder eficazmente aos ataques.
“Da parte israelita, vemos ainda concentrações de forças à moda clássica, e isso vê-se com a preparação dos veículos militares todos alinhados uns ao lado dos outros, muito perto da fronteira [com Gaza]. Alguns analistas dizem que se os israelitas estivessem no teatro de operações da Ucrânia não duravam um dia“, aponta Agostinho Costa.
O armamento usado pelo Hamas vai além dos tradicionais rockets Qassam e granadas. Várias fotos e vídeos revelaram o uso de metralhadoras DShK e AK-47, algumas das quais são armas soviéticas antigas ou têm origem no Iraque e no Afeganistão.
O apoio do Irã também tem sido crucial para o salto tecnológico do Hamas, permitindo-lhes utilizar táticas e armas mais sofisticadas. O uso dos túneis subterrâneos para armazenamento de armas, semelhante ao modus operandi iraniano, é um exemplo disso.
O Hamas também já replicou algumas táticas das forças ucranianas. “Antes de entrarem nos apartamentos, destruíram os meios de vigilância e os meios de defesa, utilizando drones FVP”, exemplifica.
O quadro geral é de uma guerra que está a mudar rapidamente, impulsionada por avanços tecnológicos e táticas inovadoras. A resistência ucraniana e os ataques recentes do Hamas contra Israel são testemunhos desta nova era da guerra moderna.
Por Adriana Peixoto, com informações ZAP //